Estranha lógica
Na edição do 'Metro' da passada quarta-feira, num trabalho assinado pelo jornalista Bruno Martins, a Carris - empresa que explora os transportes colectivos urbanos de Lisboa, autocarros e eléctricos - afirma que não vai retirar em Lisboa as milhas de eléctrico que estão abandonadas. A propósito das linhas serem extremamente perigosas, sobretudo em dias de chuva e para os motociclistas (eu que o diga), o director operacional da empresa, José Maia, solta esta 'pérola': "São tão perigosos os que estão activos como os que não estão. A questão prende-se com a adequação da velocidade por parte dos condutores ao piso e ás condições climatéricas". Segundo o mesmo responsável, em Lisboa existem cerca de 20 quilómetros de linhas desactivadas.
Vamos por partes. Num dia de chuva, sobretudo chuva fina, a lamisca de terra e óleo forma uma camada extremamente escorregadia, mais ainda sobre as superfícies metálicas, relativamente lisas. Qualquer roda que 'entre' num carril, invitavelmente que escorrega. E seja a que velocidade for. Na minha experiência de mais 30 anos de mota, já caí ao passar um carril: a 5 km por hora. A mesma velocidade de um ser humano a andar a passo.
Outra questão é que, de facto, tanto são perigosas as linhas activas como as desactivas. O cerne da questão não é esse. Ambas são 'pontos negros', isto é, locais de risco acrescido de acidente. Agora, nas linhas activas, ainda se pode justificar a sua utilidade pública. Nas linhas desactivas, além da negligência, não há qualquer justificação. Ou seja que o que verdadeiramente está em questão e que atenta contra a Carris, não é o risco em si, mas o aumento de oportunidades de risco na cidade e que, como a própria Carris reconhece são 20 quilómetros de área de risco grave de acidente. 20 quilómetros de negligência só aceitáveis enquanto houver imbecis como José Maia em lugares de responsabilidade.
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