Gripe das aves - Demagogia

Quando o actual Presidente da República iniciante, Cavaco Silva, foi primeiro-ministro, um dos seus ministros, Gomes da Silva, titular da pasta da Agricultura, ficou famoso por, no início do surto da doença das vacas loucas, ter alarvemente comido em Bruxelas mioleira de vaca, para demonstrar que não estava preocupado com a hipótese de contágio.
Meia-duzia de anos depois, outtro titular da pasta da Agricultura, Jaime Silva, foi à Ria Formosa, em Faro e até ajudou a apanhar uma cegonha que ia ser vacinada. Apanhou-a de mãos nuas, sem luvas, para demonstrar que não estava preocupado com a hipótese de contágio.
Em ambos os casos, difere a alarvidade, mas mantém-se a demagogia.
E a demagogia é a atitude de negligência política, apenas show para zé-povinho ver. O ministro agarrar a ave sem as precauções minimas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, mas fazer vista grossa sobre os cerca de 340 mil galinheiros sem controlo, com umas 15 milhões de aves, porque a cultura mediterrânica, na qual nos inserimos, tem a tradição dos galinheiros caseiros.
Deve-se evitar a histeira, é certo. mas a histeria não se evita com gestos de demagogia gratuíta, mas com um aturado trabalho de informação completa e honesta e com a existência de planos, devidamente aplicados que permitam os cidadãos terem confiança nas instituições e não como, tem acontecido nas últimas semanas, de as próprias instituições de saúde pública e de veterinária, bem como de protecção civil, afirmarem e demonstrarem publicamente que não sabem lidar com o assunto.